A sina de SINA - A Estratégia
A sina de SINA - A Estratégia

por @Ednaldo_Alves007

Saudações. Sou Ednaldo Alves, autor de histórias em quadrinhos como SIDERAL e NA JIN, publicadas aqui na FLIPTRU. E essa será uma série de artigos mostrando minha experiência no BMA3 (Brazil Manga Awards – o concurso de mangá da Editora JBC). 

Dificilmente alguém que curtia Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball e uma pancada de animes, quadrinhos e séries que invadiram o Brasil nos anos 1990 não queria fazer suas próprias histórias. Seja uma história com esses personagens já conhecidos ou querendo criar um novo “sucesso”. Assim era eu que não perdia um episódio se quer (nem mesmo as reprises) dessa gama de universos que se expandia em minha frente. Vieram o boom dos mangás no começo dos anos 2000 e sua peculiar ordem de leitura. Vieram os eventos, os periódicos e a cultura japonesa de entretenimento invadiu de vez o Brasil se tornando um processo irreversível. 

Trabalhar com isso era o sonho de qualquer fã. Mas como fazê-lo quando se mora beeeem longe dos centros econômicos do país como Rio de Janeiro e São Paulo? Uma ótima chance de se destacar e ser visto seriam os concursos de quadrinhos. Era muito difícil (e ainda é) você ter seu material, sua história, analisada por pessoas do meio. Um concurso seria uma chance de você mostrar seu potencial. Eu já estava um tanto afastado em produzir meus quadrinhos quando a Editora JBC anunciou o primeiro BMA. Era a oportunidade perfeita de voltar a pensar em produzir quadrinhos, afinal, essa semente sempre esteve ali se alimentando, crescendo, esperando uma oportunidade de sair e ganhar forma. Era 2013 e resolvi encarar essa! Peguei o regulamento e o li com atenção fazendo algumas anotações. Com as regras delimitando até onde poderia ir comecei a montar minha estratégia/história para ganhar o concurso e assim ser publicado pela até então melhor editora de mangás do Brasil.

Sempre gostei de contar histórias. Minha habilidade de escrever é bem melhor do que a de desenhar. Mas era um concurso, não poderia escrever qualquer coisa. Eu tinha que entender o concurso, os jurados (que até então não tinham sido revelados, mas que eu sabia que seriam do meio como: editores, desenhistas, jornalistas e etc.) e como tirar o melhor proveito das regras a meu favor. De cara sabia que pra vencer teria que ser uma história ambientada no Brasil. Histórias assim por si só tem um apelo forte. Não acho que isso deveria ser assim. Há toda uma questão sobre o que é ou deva ser “quadrinho nacional” e espero futuramente escrever sobre isso. Mas por isso já sabia que aumentaria minhas chances. O gênero de mangá (sim, no mangá há vários gêneros, todos com suas próprias peculiaridades de contar histórias) de maior sucesso no Japão é o shounen, mangá voltado para garotos infanto-juvenil como: Naruto, Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball e etc. Então teria que me focar nos elementos narrativos desse tipo de mangá. Escolhi esse gênero também porque era a maior parte do catálogo da editora do concurso. Pronto, escolhido a base e que teria de se passar no Brasil, o próximo passo seria escolher que parte do Brasil mais se encacharia com o gênero shounen. Comecei a pesquisar momentos no passado e no presente do nosso país e listei seis cenários possíveis e fui um a um vendo qual deles mais se encaixava com o shounen. Dentre eles estava o cangaço, um período turbulento na história do nosso país que se assemelhava em certo ponto com as histórias de samurais no Japão e o velho-oeste americano. Então eu pensei: “opa, aqui eu tenho o background perfeito pra história”.

Na época, lembro que estava fazendo muito sucesso o anime Shingeki no Kyojin e lembro de uma cena que me chamou muito atenção, foi quando o protagonista olha para sua cidade destruída e com uma fúria e raiva avassaladora jura que mataria todos os Titãs. Então eu pensei num garoto no sertão tendo as mesmas reações só que trocando titãs por cangaceiros. Pronto! Aí está a pedra fundamental da minha história. Agora precisava preencher as lacunas para a história ter uma sustentação plausível. Mas para isso era preciso algo muito importante para deixar a história plausível: a pesquisa.

Pesquisei tudo que podia sobre o cangaço. Notícias de jornais, filmes, reportagens, principais nomes e por aí vai. Enquanto pesquisava eu anotava algumas ideias que apareciam. Começou a surgir um universo expandido com potencial para uma série, mas a história para o concurso teria de ser uma one-shot, uma história curta com começo, meio e fim, com no máximo 32 páginas contando com a capa. Aí eu peguei essas anotações e escolhi a que mais se encaixava com a cena que descrevi acima. Sentei na frente do computador e comecei a escrever a história de Antônio Alves, o Cabra das Pexeras e sua maldita SINA. Terminei toda a história numa manhã. Já tinha divido as páginas e pensado na disposição das mesmas. E estrategicamente deixei uma para uma citação de João Cabral de Melo Neto que meio que sintetizava o que acabara de escrever. Isso poderia me dar mais alguns pontos com os jurados mostrando que fiz uma boa pesquisa. 

A história precisava de um título que chamasse atenção logo de primeira e que faria mais sentido ainda quando o leitor terminasse de ler. Era uma história trágica como o próprio período do cangaço fora. O personagem, assim como as pessoas dessa época, tinha muito a ideia de destino, de que as coisas que lhe aconteciam era obra do destino. Taí uma palavra que poderia sintetizar a história, mas “destino” não soaria como alguém da região nordeste falaria. Como alguém naquela época, naquela região falaria “destino”? Foi aí que veio a palavra SINA. Ela aparece também na obra de João Cabral de Melo Neto.

Quando terminei de escrever SINA eu sabia que tinha uma ótima história ali. Que teria uma chance boa de ganhar. Estava bem escrita, os diálogos naturais, as cenas de ação ótimas, mas SINA tinha um calcanhar de Aquiles. E agora ela teria seu primeiro grande obstáculo a transpor: os desenhos. 

Mas isso fica para o próximo capítulo. Não perca! ^_^x

Ednaldo Alves.

Publicado em 24/08/2020

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