Fundamentos da Chatice
Fundamentos da Chatice

por @Moreatti

No meu artigo Anterior, eu falei um pouco sobre material de trabalho e comentei sobre a parte de precisão: dicionários, livros de gramática, livros de anatomia, etc. Neste aspecto, eu imagino que seja monstruosamente cansativo gastar horas estudando pronomes, conjugação, ênclise, músculos, ângulos, fundamentos (já deu sono? Eu também)... etc., etc, e muitos etc. 

Agora, caso você esteja, como eu, trabalhando com fantasia, imagine como foram as primeiras aulas do seu personagem. Se um mundo de fantasia tem um sistema de magia ou similar, as aulas fundamentais são chatas e cansativas (igual à Harry Potter: "Abram o livro na página 394”). Se sua história é de ação realista, saiba que seu super agente teve semanas de treinamento de primeiros socorros, montagem de armas, movimentação de combate, sobrevivência, etc. Tudo muito chato e, neste nosso mundo de contadores de histórias, esta é a sua parte.

Não, o leitor não vai achar legal o personagem fazer um arco de trinta capítulos, representando um semestre inteiro, estudando controle de respiração, fluxo de energia ou repetindo desmontar, limpar e montar armas... Mas a parte chata é que VOCÊ VAI TER DE gastar muitas horas da sua rotina de quadrinista estudando os fundamentos da nossa magia. E sim, trata-se da escrita. É muito fácil perder leitores para um texto chato (como este: Chato MAS, importante e educativo ^_^) e também é bem fácil perder leitores para um texto muito difícil de entender (Estou Arriscando ALTO DEMAIS com minha personagem Imperatriz, mea culpa). Por isto, é de muita ajuda dedicar uma parte do seu tempo de produção, numa leitura de um capítulo ou tópico de gramática. O mesmo vale para anatomia, fotografia, composição, cores e outros tópicos que compõem nossa arte.

Você pode trabalhar livremente, sem estilo, mas pense que, uma parte do entusiasmo que você tem vendo animações e/ou quadrinhos extremamente cativantes passa por uma grande margem de conhecimento teórico que é feito para nos emocionar, alegrar, entristecer, provocar, inflamar e por aí vai. Isto é feito de forma muito bem calculada. Um momento empolgante, uma entrada épica ou uma virada surpreendente só causam estas emoções por que a forma como são mostrados os quadros, personagens, cenários; a forma como são construídos diálogos, efeitos, às vezes cores, causam estas emoções. Pense como foi emocionante a entrada de Naruto, salvando Konoha de Pain; ou a emoção com os Flashbacks de Guy antes de enfrentar o Madara.

Cabe a nós quadrinistas, montarmos a narrativa e direcionar a atenção do leitor para os pontos que devem ser observados e, se possível, na ordem em que devem ser observados. Guiar os olhos do leitor pela página para controlar a sensação que aquele momento da história quer passar. Medo, angústia, susto, alegria, expectativa, decepção. Dá pra controlar isto tudo e é exatamente o que torna uma história interessante. Mas é necessário um bom conhecimento das ferramentas de narrativa. Até mesmo se voce estiver tentando inovar e quebrar algum clichê ou recurso de roteiro. 

Tire alguns minutos por dia do seu trabalho com quadrinhos para estudar. Um pouco de cada vez. Sim, é chato, mas é assim que se vence a corrida. Acredito muito que vai valer a pena!

Continuem um ótimo trabalho. 

Deixe um comentário ou crítica. Eu também estou na jornada de evolução. 

Longos dias e Belas Noites. 

Publicado em 28/12/2023